O economista, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) Aloísio Araújo defende investimentos na educação infantil, especialmente nos primeiros anos de vida, quando se forma o cérebro das crianças. O motivo é simples: meninos e meninas que recebem mais estímulos cognitivos até os 4 anos de idade chegam à escola em melhores condições de aprender. Reportagem de Demétrio Weber publicada na edição deste domingo do Globo mostra que o inverso também é verdadeiro e, segundo Araújo, explica o fosso que separa estudantes brasileiros antes mesmo de pisarem na sala de aula. Araújo está à frente de um seminário internacional que vai discutir o assunto na quinta e sexta-feira, na FGV do Rio, com a presença de nove pesquisadores estrangeiros, um deles James Heckman, que ganhou o prêmio Nobel de Economia em 2000. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Por que o senhor considera a educação infantil tão importante?
ALOÍSIO ARAÚJO: Do ponto de vista de neurociência, porque o cérebro se forma muito cedo. Então, se a criança não recebe certos estímulos nessa fase em que se estabelecem certas conexões neuronais, ela dificilmente vai recuperar isso depois. Através de medições e imagens mais modernas, fica claro que é difícil que essa criança atinja o mesmo nível de uma outra que foi submetida aos estímulos adequados.
Que tipo de estímulos?
ARAÚJO: A criança que vem de um lar em que os pais são educados, leem em voz alta, dão estímulos lógicos e usam um vocabulário amplo, está muito mais preparada quando chega à escola do que uma criança que tem os pais analfabetos, poucos recursos em casa, não tem jogos, brinquedos. Isso é medido num trabalho do (James) Heckman e do Flávio Cunha: com 1 ano de idade, as diferenças são muito pequenas. Aos 4 anos, muito grandes, dependendo do nível de renda.
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Depois dos 4 anos, o sistema educacional não recupera mais
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A escola consegue reverter essa diferença mais tarde?
ARAÚJO: Depois dos 4 anos, o sistema educacional não recupera mais. As diferenças que existem por educação da mãe ou faixa de renda não são mais reversíveis.
O senhor está falando de estímulos, então, que teriam que ser dados nas creches.
ARAÚJO: Não necessariamente todo mundo vai à creche. Isso pode ser feito dentro de casa também. Se esses estímulos são feitos dentro de casa, por uma mãe que dedica muitas horas à criança, pais que leem em voz alta, se há muitos brinquedos que estimulam o desenvolvimento cerebral, essa criança se prepara melhor e já chega à escola em condições muito mais favorecidas. Se não se fizer essa intervenção mais cedo, as diferenças não diminuem.
Como isso afeta o Brasil?
ARAÚJO: O Brasil tem um número muito grande de crianças que vêm de famílias com baixa escolarização da mãe, dos pais em geral, e com baixo nível de renda. A mãe é mais relevante, porque geralmente passa mais horas com as crianças. Então, fica muito difícil para o sistema escolar recuperar essa defasagem depois. Esse é o desafio maior no Brasil. Um país como o nosso deve dar mais atenção a essas intervenções precoces.
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